Como em
todas minhas palestras, para compensar minha dificuldade de dicção e ser entendido
pela plateia, escrevo, minha irmã Ana Luiza grava o texto e monto em vídeo para
passar o conteúdo.
O que também
é uma forma de demonstrar como uma pessoa com deficiência usa a tecnologia ao
seu favor. Inclusive para se expressar,
fazendo-se ser entendida.
Bem, vamos
lá...
NOVAS VISÕES ACADÊMICAS
Mementos
atrás eu apresentei o vídeo com minha biografia. Ali minha palestra já havia
começado. No fundo, eu não estava querendo me vangloriar com a minha história.
E sim, mostrar em suas entrelinhas que não
há limites na vida de qualquer pessoa, tenha ela deficiência ou não.
E nós
psicólogos podemos tanto acrescentar positivamente, quanto negativamente na
vida de uma pessoa...
Desde minha
graduação em psicologia, venho estudando os conteúdos das disciplinas que
abordam essas temáticas nas universidades brasileiras. A maioria continuava
apenas ensinando o que são pessoas com
deficiência, enquanto já avançamos.
Agora, na
era da inclusão, precisamos discutir como
essas pessoas podem e devem participar da sociedade como um todo. Um
conteúdo mais atualizado, tanto às disciplinas ministradas nas faculdades de
psicologia, como para todos os psicólogos que já estão no mercado de trabalho.
Creio que a
primeira grande mudança precisa ser nos bancos acadêmicos. Defendo para essas
disciplinas o título Psicologia e
Pessoas com Deficiência. Não temos a necessidade de sustentar a
existência de uma sub-área específica chamada Psicologia da Deficiência (ou
em pior grau, manter-se o título Psicologia do Excepcional).
Isto porque,
a Psicologia precisa encarar e tratar pessoas com deficiência como as demais,
sem cria uma Psicologia específicas à elas. E sim desenvolver uma nova
mentalidade em estimular uma linha de trabalho, no qual o papel do psicólogo deva intervir na busca da superação das limitações.
ATUAÇÃO DE NÓS, PSICÓLOGOS
Se antes a
pergunta era “O que são pessoas com deficiência?”, hoje a pergunta precisa ser
“Como nós psicólogos devemos atuar para
ajudar as pessoas com deficiência a ter mais autoestima e uma vida plena?”.
Lev Vygotsky
abordou de forma pioneira e sistemática assuntos relacionados à criança ou
pessoa com deficiência com grande significado, gerando ideias e um novo modo de
ver tais questões, descrevendo que essas pessoas têm dos tipos de deficiências:
Deficiência Primária – trata-se da deficiência
propriamente dita – impedimento, dano ou anormalidade de estrutura ou função do
corpo, restrição/perda de atividade, sequelas nas partes anatômicas do corpo,
como órgãos, membros e seus componentes, incluindo a parte mental e psicológica
com um desvio significativo ou perda.
Deficiência Secundária – são as consequências, dificuldades
e desvantagens geradas pela primária. Ou seja, tudo aquilo que uma pessoa com
deficiência não consegue realizar em função de sua limitação. Uma situação de
desvantagem às demais pessoas sem deficiência, podendo o indivíduo encontrar
limitações na execução de atividades, restrições de participação ao se envolver
em situações de vida em ambiente físico, social e em atitude no qual as pessoas
vivem e conduzam sua vida.
A partir
dessa divisão, Vygotsky passou a defender que profissionais de saúde e
educadores precisam enfatizar suas atividades em ajudar a pessoa a superar suas deficiências secundárias e não focar
nas deficiências primárias.
O Brasil
está chegando a 48 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Essa
quantidade passou a ter um peso significativo na sociedade.
Pessoas que
nas últimas décadas, não contentes com o isolamento social, resolveram “colocar
a cara na rua”, visando conquistar o seu
lugar no seio social.
Presentes
hoje em todos os segmentos deixaram de ser os “coitadinhos” para ser um público
consumidor, produtivo, sabedor de onde realmente quer chegar e exigente de bons
serviços. Consequência disso é que cada vez mais o contexto social está se vendo obrigado a promover e se adaptar à
política da inclusão social para recebê-las.
Precisamos
gerar psicólogos mais preparados para atendê-las em suas necessidades
específicas e, em muitos casos, psicólogos para serem o elo dessa inclusão
social, mediadores entre o real e o ideal.
Considerando
o grande número de pessoas, hoje em
qualquer lugar que um psicólogo for atuar, deparará com esse público:
Se for para
área organizacional, as empresas devem ter uma cota mínima dessas pessoas
contratadas;
No setor
educacional está sendo discutido, implementado e garantido, por força da lei, a
inclusão escolar;
No setor
hospitalar, elas ficam doentes como as demais;
Na clínica,
mesmo se o psicólogo não atender diretamente essas pessoas, atenderá seus
parentes.
Na inclusão,
as iniciativas são da sociedade. E a Psicologia tem muito a colaborar nesse
processo, onde a sociedade se adapta para poder incluir em seu contexto as
pessoas com deficiência.
Mas, por
outro lado, essas mesmas pessoas precisam ser “preparadas” para assumir seus
papéis na sociedade, o que abre várias possibilidades de atuações psicológicas.
Será uma
forma de parceria entre toda a sociedade, visando equacionar problemas,
decidindo sobre soluções, efetuando
equiparações de oportunidades para todos.
Estaremos,
assim, realmente criando no relacionamento prático entre a Psicologia e pessoas
com deficiência, na busca do ser humano
por de trás da pessoa com qualquer tipo de limitação.
Suas reais
necessidades, interações sociais, educacionais, relacionamentos familiares e
afetivos, necessidades de atividades profissionais e, sobretudo, suas verdadeiras potencialidades a serem
estimuladas de forma individual e coletiva.
Porém, mais
do que falar de teorias, quero falar de atitudes. Leia sobre inclusão e qual o papel do psicólogo nesse processo.
Hoje além de muitos livros, temos uma infinidade de materiais gratuitos no
mundo virtual.
E quando
estiver atendendo clinicamente ou acompanhando o caso de inclusão escolar de um
aluno, ou de uma pessoa com limitações,
estude ao máximo as particularidades de sua deficiência, realidade em seu
entorno e suas reais potencialidades.
Aliás,
perdoem-me a sinceridade, mas qualquer
psicólogo que não tenha o hábito de leitura e de se aperfeiçoar sempre, nem
deveria estar na profissão!
SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA...
Para
terminar, neste momento em que comemoramos o DIA DO PSICÓLOGO, quero falar de humanidade.
No começo eu
joguei no a ar esta colocação:
Nós psicólogos podemos tanto
acrescentar positivamente, quanto negativamente na vida de uma pessoa?
Vou contar
um depoimento pessoal. Logo que me mudei para Bauru, saindo de uma cidade de
seis mil para uma de 320 mil habitantes, eu estava totalmente sem rumo. Fui
procurar uma renomada instituição
brasileira que tinha por missão empregar pessoas com deficiência.
Ao passar
pela entrevista com a psicóloga, ela me perguntou o que eu gostaria de fazer
profissionalmente. Disse-lhe que tinha o
desejo de continuar no jornalismo, como já fazia em Guaraçaí. Ela me disse
na lata:
- Você não pode ser jornalista, você
é um deficiente...
Eu
simplesmente me levantei, agradeci, virei as costas e fui embora. Jamais deixei
alguém me dizer o que posso fazer ou não da minha vida.
Será que se
eu tivesse dado ouvidos àquela psicóloga, teria construído essa caminhada que
me trouxe até aqui? Será que hoje eu estaria me pronunciando perante vocês?
Então fica
aqui uma última dica. Jamais duvide ou
limite os desejos e projetos de um paciente, tenha ele deficiência ou não.
O destino de cada um, a história que ele viverá só Deus sabe. O papel do
psicólogo é sempre de apoiar, ajudar e nunca de julgar ou limitar!
E, antes de
qualquer coisa, acredite em você mesmo enquanto psicólogo e nas contribuições
que possa dar para uma sociedade realmente inclusiva. Isso já será um grande
começo.
O psicólogo
deve ser um suporte seguro que lança seus assistidos rumo as infinitas
possibilidades!!!
Meu muito
obrigado pela a atenção!
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Um abração!
Emílio Figueira